Fundo ManaMano, um projeto de fortalecimento a nano e microempreendedores
Publicado em 08/04/2021
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. (Mãos Dadas – C. Drummond de Andrade)
No final de 2019, num esforço para aproximar a universidade da discussão do empreendedorismo social, a UFRJ fez uma parceria com a Ashoka com a finalidade de incentivar e fomentar a inovação e o empreendedorismo social. Alguns meses depois, no início de 2020, a essência do projeto tornou-se uma evidência e uma urgência quando surgiram os impactos econômicos da pandemia nos empreendedores mais vulneráveis.
O Fundo de Transformação Social ManaMano é a primeira concretização desta parceria. Trata-se de um programa de 6 meses destinado a dar suporte financeiro, formação e consultoria em gestão de negócio a nano e micro-empreendedores de favelas e periferias do Rio de Janeiro.
“O planejamento do programa foi feito a seis mãos entre a UFRJ, Asplande e o Instituto Dara”, explica Maribel Suarez, professora do Instituto Coppead da UFRJ e coordenadora acadêmica do ManaMano. “Juntos, preparamos o conteúdo, a dinâmica e as aulas. As ONGs parceiras do programa (Asplande, Instituto Dara, Gastromotiva, Luta pela paz) trouxeram seu know-how no trabalho com o público do ManaMano num contexto específico, enquanto que a parte da execução foi responsabilidade da nossa equipe da UFRJ que conduziu as aulas, sempre com o apoio das ONGs na coordenação entre as organizações”, reforça ela.
Mesmo não tendo sido desenhado especificamente para mulheres, aconteceu uma feminização do programa. Uma das razões foi o significativo impacto econômico da pandemia nas mulheres empreendedoras, outra foi a natureza do projeto, fruto da parceria com organizações que têm uma atuação muito forte dirigida às mulheres. “ Vimos que as mulheres se engajam muito mais que os homens na transformação da família, e isso deu a natureza feminina do ManaMano. Mas nada impede que no futuro empreendedores homens sejam atendidos ” salienta a professora.
Como funciona o programa
O programa ManaMano trabalha duas questões muito importantes para o desenvolvimento e o fortalecimento dos empreendimentos: o marketing digital e a questão dos custos e da precificação do produto ou serviço.
Envolve alunos de Administração da UFRJ, seus professores e as ONGs parceiras que são responsáveis por trazer os empreendedores candidatas. A seleção final é realizada após avaliação dos perfis e do vídeo que cada empreendedor grava respondendo às perguntas elaboradas pela equipe da UFRJ sobre as dificuldades enfrentadas, a importância de participar do programa, o uso do capital semente oferecido, etc.
Esse capital semente de R$ 2.500,00 está atrelado a um programa de capacitação que inclui atividades de desenvolvimento e modelagem de negócios, além de cursos temáticos ligados à área e mentorias que permitem conectar a teoria das aulas com a prática do negócio.
O número de empreendimentos atendidos depende integralmente dos recursos captados através de doações. “No início da pandemia, houve um intenso movimento de doações no ecossistema das ONGs em geral” lembra Maribel. “Mas, com a precarização econômica da sociedade, essa dinâmica foi reduzindo bastante, o que limitou os recursos para doações” lamenta ela.
O programa foi então ajustado dentro das possibilidades financeiras e na sua primeira edição conseguiu atender 6 empreendedoras.
Parcerias engajadas e trocas enriquecedoras
Um dos aspectos marcantes da iniciativa é o engajamento dos professores, alunos e funcionários da UFRJ numa atividade que abrange ao mesmo tempo a pesquisa sobre inovação e empreendedorismo social, o ensino através da atividade de extensão onde os alunos tornam-se capazes de transmitir o conhecimento para os empreendedores, e a cultura do voluntariado e da inserção nos problemas sociais.
A professora Maribel destaca e comemora o quanto a troca entre os empreendedores e a universidade é rica para todos os envolvidos :
“Os alunos conhecem uma realidade da sociedade que desconhecem, os professores engajam-se além da simples entrega de conteúdo e os empreendedores conseguem vencer barreiras sociais e gerar um sentimento de orgulho e pertencimento.”
Em paralelo, as ONGs parceiras do programa proporcionam aos empreendedores um suporte institucional e humano essencial nesta fase de desenvolvimento de seus negócios, mas também ajudam na ampliação de uma nova rede de empreendedores com competências e dificuldades similares ou diferentes. A proposta, justamente, é que essa rede continue crescendo a cada nova turma do programa e permita desenvolver trocas tanto entre empreendedores quanto entre as diferentes ONGs graças também ao trabalho com os alunos da UFRJ.
O programa ManaMano iniciou sua trilha numa escala pequena, porém com uma dose extra de garra e engajamento.
“Um dos objetivos é desenvolver uma metodologia que possa ser replicada para além do ManaMano, pois o programa quer crescer e ampliar seu impacto” conclui, animada, a Maribel Suarez.